domingo, 20 de abril de 2008

Amor e felicidade(Arthur de Távola)
Alcançar o amor talvez exija mais renúncia do que alegria e felicidade.Nem sei se a felicidade pessoal é compatível com o amor. Por que ligar felicidade ao amor?O amor é sério demais para almejar a felicidade.A felicidade está sempre ligada a alguma forma de inconseqüência.A paixão sim faz a gente feliz. Só transar? Melhor ainda.Assim como é preciso alguma crueldade para viver, assim como há sempre alguma agressão embrulhada em qualquer vitória, também a felicidade precisa de alguma inconseqüência.O amor por si, é repleta de "trágicos deveres".Por isso o amor não está ligado à felicidade.Os que assim a perseguem, deveriam desistir de amar.O amor é um sentimento ligado à lucidez, à renúncia, à compreensões das contradições.Amar é ser capaz de viver um sentimento que se misture fundo com a vida, se torne corriqueiro, mal percebido, sem grandeza, sem efeitos extraordinários, emoções particulares ou excitantes.Aqui reside, pois, a complicações do amor.Só se torna visível quando ameaçado acabar.Só se o descobre quando se supõe nada mais sentir.Está onde menos se espera.É profundo, vital, doador, independente de exaltações. Flui imperceptível, aparece ao sumir.Pessoas que separam, mesmo livres uma da outra, sentem um vazio, uma perda, um sentimento de possibilidade perdida.É preciso muito viver, muito desiludir-se, muito sentir, muito experimentar, muito perder, muito renunciar, para encontrar o próprio amor, guardado não se sabe em que dobra da gente, e muitas vezes nunca descoberto.Morrer sem descobrir o próprio amor escondido é freqüente. E terrível.O que estamos fazendo com o amor que está em nós e diariamente trocamos pelas emoções prazenteiras, pela felicidade inconseqüente, pelas alegrias passageiras?O que estamos fazendo? O que?

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