O direito à fantasia(Texto de Martha Medeiros)
Você acredita que tem gente que acha que a imaginação é uma forma de pecado?Reprimir nossas fantasias é uma amputação.A gente é o que a gente vive e também o que a gente delira, sonha, projeta, inventa, reconstrói, ousa, verbos raramente praticados no nosso santificado dia-a-dia. Fantasiar não resume-se a imaginar uma cena de sexo no elevador. É imaginar-se apartado do cotidiano conhecido, vivendo emoções mais arrebatadas, sendo uma pessoa totalmente diferente do que se é.Por que só é tolerado no carnaval? Lantejoula, paetê, purpurina, maquiagem, pouca roupa, cores fortes: a gente tem tudo isso em estoque, nem precisa de produção. Basta fechar os olhos e enxergar para dentro. Há milhares de possibilidades de sensações a serem desfrutadas sem prejuízo algum para os outros ou para nós mesmos. É o mínimo que a gente merece depois de tantos anos de, digamos, trabalhos forçados.Passamos a vida inteira cumprindo o que esperam de nós, respeitando os sinais de trânsito, pagando os impostos em dia, decorando senhas, sendo gentis, solidários, pacientes, chegando pontualmente ao serviço, sendo ótimos pais, ótimos filhos, fazendo a casa funcionar, economizando centavos, cuidando da higiene, ouvindo desaforos e grosserias de quem não nos compreende e sem esboçar reação alguma... Levantamos todo santo dia com disposição: da cama pro banho, do banho pro trabalho, dia após dia sem exaurir-se, porque faz parte da vida seguir as regras. Não há nada de errado com isso, mas.... Mas não há só isso. E o nosso lado Marylin Monroe? Ou pitbull? Tudo o que nos fascina, horroriza e diverte: por que não experimentar sem sair do lugar? Fantasiar é inofensivo, saudável e de graça. Ajuda a perder peso e a não perder o controle. Muito pelo contrário: quem tem medo do próprio pensamento é que já está comprometido
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